"Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil; se não se deixar guiar pela submissão às idéias dominantes e aos poderes estabelecidos for útil; se buscar compreender a significação do mundo, da cultura, da história for útil; se conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas ciencias e na política for útil; se dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para serem conscientes de sí e de suas ações numa prática que deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil, então podemos dizer que a Filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são capazes." Marilena Chaui

"Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender e, se podem aprender a odiar podem ser ensinadas a amar". Nelson Mandela

"É preciso atrair violentamente a atenção para o presente do modo como ele é, se se quer transformá-lo. Pessimismo da inteligência, otimismo da vontade". Antonio Gramsci

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Globalização a serviço de quem?


O processo de globalização nos traz o sentimento de que o mundo se transformou em uma grande aldeia global. Ao toque de um teclado temos o mundo desvelado na tela de nossos computadores. Esse novo processo mundial trouxe como benefícios o encurtamento das distâncias e a diminuição dos tempos das tarefas. Entretanto não podemos ter apenas uma visão unilateral dos fenômenos sociais, e devemos nos perguntar: a quem ou a que o processo de globalização serve? Respondendo a pergunta poderíamos dizer que a globalização está estreitamente relacionada às formas de reprodução do capital e com as formas imperialistas de dominação.
Sobre o desenvolvimento desse processo mundial, Marx e Engels descreverem no Manifesto do Partido Comunista em 1848 de forma espantosa como se estivessem escrevendo nos dias atuais:
"Impelida pela necessidade de mercados sempre novos, a burguesia invade todo o globo. Necessita estabelecer-se em toda parte, explorar em toda parte, criar vínculos em toda, parte.
Pela exploração do mercado mundial a burguesia imprime um caráter cosmopolita à produção e ao consumo em todos os países. Para desespero dos reacionários, ela retirou à indústria sua base nacional. As velhas indústrias nacionais foram destruídas e continuam a sê-lo diariamente. São suplantadas pôr novas indústrias, cuja introdução se torna uma questão vital para todas as nações civilizadas, indústrias que não empregam mais matérias-primas autóctones, mas sim matérias-primas vindas das regiões mais distantes, e cujos produtos se consomem não somente no próprio país mas em todas as partes do globo. Em lugar das antigas necessidades, satisfeitas pelos produtos nacionais, nascem novas necessidades, que reclamam para sua satisfação os produtos das regiões mais longínquas e dos climas mais diversos. Em lugar do antigo isolamento de regiões e nações que se bastavam a si próprias, desenvolvem-se um intercâmbio universal, uma universal interdependência das nações. E isto se refere tanto à produção material como à produção intelectual.(Marx e Engels, 1848)
 A interdependência mundial, que coloca os países menos desenvolvidos em uma situação subalterna em relação aos países ricos, cria a cada dia mais dependência econômica, intelectual e tecnológica, e claro tudo isso contribui para a expansão do grande mercado mundial e consequentemente a acumulação de capital nas mãos das classes dominantes. Além disso, muitas são as mazelas geradas por esse processo, cito apenas algumas: aumento no índice de desemprego, como resultado da modernização do processo produtivo; desmantelamento da indústria nacional e sua incorporação por empresas transnacionais; total perda de autonomia nacional, pois a economia fica dependente do capital internacional, ou seja, uma total entrega do poder político e econômico dos países pobres nas mãos do capital estrangeiro transformado-os em simples consumidores dos seus produtos, apliando assim o mercado de consumo.

 

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

A Ditadura Cubana e a Democracia da Miséria Brasileira


 
e tempos em tempos o assunto Cuba volta à baila. Tenho a noção de que o “exemplo cubano” é uma “tapa na cara” de nossas elites e de setores da classe média que defendem os valores liberais do nosso capitalismo avançado. Sempre que é possível, tentam colocar o Brasil como um país “melhor” (para quem?) do que Cuba. Como sabem, não há comparação possível ou imaginável entre os dois países em termos sociais. Seremos eternamente derrotados: se existe fome em Cuba, há o que no Brasil? Aguardo a resposta.
Nossa mídia representa os interesses dos grupos financeiros e nos impinge o que devemos ler, ver e escutar. Com este quadro "democrático" sempre aponta-se para a falta de “liberdades” em Cuba, acusando seu governo de controlar  a imprensa. E no Brasil, há liberdade de imprensa?
Como é possível falarmos em “liberdade de imprensa” quando o Capital controla a mídia? Nossas leituras de jornais, por exemplo, nos garantem o acesso à real informação? Qual a diferença entre a imprensa cubana e brasileira, ou a norte-americana? Isso é liberdade?
Em relação à deserção (e arrependimento) dos boxeadores cubanos, a imprensa brasileira esqueceu de mencionar os milhares de brasileiros que “desertam” do nosso querido e amado país todos os anos. Preferiram apontar para o “horror” cubano. 
Mais de um milhão de brasileiros jogaram-se na aventura de viver em outros países do mundo em busca do que não encontram aqui: dignidade e tratamento humano. Centenas morrem em viagens cujo objetivo é ter dignidade.
Cuba tem vários problemas que não são sociais, mas sim políticos e econômicos que forçam a saída de sua população.  O maior problema econômico é o embargo norte-americano que impede o desenvolvimento industrial do país. Sem dúvida nenhuma a falta de vários produtos de consumo, associado à promessa de paraíso nos EUA, estimulam a saída dos cubanos. Qualquer pesquisa feita entre a população cubana aponta que o maior problema não é o regime, mas os efeitos do embargo norte-americano.
Ao contrário da mão-de-obra qualificada dos cubanos, nossos imigrantes são semi-analfabetos que jamais se enquadrarão em postos de trabalho de maior remuneração. Nossos brasileiros serão eternamente serventes, pedreiros etc.
O que pretendo colocar aqui é a análise lógica das duas realidades. O Brasil com sua Democracia defendida pelos "donos da bola" conseguiu disseminar por toda a sociedade brasileira a pobreza e miséria. Nós realmente fizemos um trabalho perfeito neste quesito. A satisfação dos Donos do Poder é tanta que comemoramos este quadro oferecendo o pão e circo: futebol e carnaval.
Não há discussão séria sobre nossas mazelas sociais. Reportagens sobre o caos do SUS em nossas televisões, pro exemplo, não apontam para uma saída concreta e transformam-se em imagens vazias. O conceito de Democracia no Brasil é uma mera palavra. Ela está desvinculada de seu significado real: condições iguais de oportunidade.
Aviso que não defendo uma “ditadura” para ter dignidade social. Também não concordo com os sofismas das elites brasileiras de apontarem os erros de outros países, quando praticamos atrocidades inimagináveis contra a sua população.
Não seria uma atrocidade contra a população a falta de leitos nos hospitais? Ou a falta de saneamento básico para dois terços de nossa população? Aqui o mais importante são os direitos formais: votar, votar e votar.
Democracia não é somente isso.
Comentário: Será porque mesmo que Cuba incomoda tanto as lideranças capitalistas? Porque será que os EUA promovem o embargo à Cuba? logicamente não é interessante para o reino capitalista assumir que haja um lugar onde se vive dignamente, onde o governo, que precisa realmente exercer um trabalho coercitivo e fiscalizador para coibir a entrada na ilha dos valores podres apregoados pelo capitalismo, governe  verdadeiramente para seus habitantes. Precisamos começar a raciocinar e refletir sobre aquilo que nos é mostrado! E viva a ditadura do bem-estar de Cuba!!!! Saudações comunistas!!!!

Fonte: http://www.charlespennaforte.pro.br/ditaduracubana.html

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

A Sociedade e a Matrix


Hoje em dia vivemos em um regime chamado capitalismo que é baseado no lucro, mas até que ponto essa busca desenfreada pelo dinheiro influi em nossa vida? A resposta está na Matrix. Mas o que é Matrix? A resposta está no capitalismo, ou seja, Matrix é simplesmente o capitalismo que nos domina, e essa dependência vai muito além do que pensamos.
Em seu real significado, Matrix pode ser denominada como Matriz, sendo, portanto o que controla, já nesse contexto, Matrix é um sistema que dita, hoje, nossos costumes, valores, e até nossa personalidade, por exemplo: quando ligamos uma televisão e nela está passando uma propaganda de um determinado produto como um sanduíche, nosso cérebro, atendendo a um comando das micro-ondas do aparelho, manda estímulos que nos induzem a comprar esse alimento.
O trunfo da Matrix (capitalismo) é a tecnologia, mas como uma coisa que foi criada pelo homem pode controlar o homem? A verdade é que infelizmente pode, um exemplo muito comum é o computador, ao ser ligado, geralmente, no canto inferior direito está a imagem do MSN e no canto inferior esquerdo se encontra imagem da Internet. Se um indivíduo liga o computador apenas para digitar um texto escolar, automaticamente ele é induzido a clicar nas duas imagens já citadas e digitar seu texto ao mesmo tempo em que usa o MSN, ORKUT, BLOGS e até pornografias, alimentando assim a já gigantesca indústria capitalista.
Mas então, se a Matrix é tão poderosa e tão inteligente, como vencê-la? A resposta está no conhecimento, pois a partir do momento em que as pessoas começarem a buscar ao menos um conhecimento superficial, a humanidade já vai ter dado um grande passo para se libertar desse que nos controla cruelmente.

Fonte: http://dialzira.wordpress.com/2009/03/03/a-sociedade-e-a-matrix/

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

É PRECISO SAIR DA CAVERNA!!!! DESALIENAÇÃO JÁ!

BURGUESES E PROLETÁRIOS
Vivemos numa sociedade capitalista.
Na sociedade capitalista, existem muitas desigualdades. Basta ter olhos para ver. Uma minoria de pessoas concentra grande quantidade de bens materiais em seu poder: dinheiro, propriedades, mansões, carros, muita fartura e luxo. Por outro lado, a maioria das pessoas tem apenas o mínimo, e às vezes menos que o mi¬nimo, para sobreviver. Vivemos apertados em matéria de alimentação, casa, roupa, transporte, escola, saúde e lazer etc. Vemos também tantas conseqüências trágicas desta sociedade: subnutrição, mortalidade infantil, doenças endêmicas, menores e idosos abandonados, desemprego, prostituição, analfabetismo, criminalidade, acidentes de trabalho, favelas . . .
É verdade que entre os dois gru¬pos existem camadas médias, que costumamos chamar de "classe média". Mas esta "classe média" não é uma classe fundamental, quer dizer, não é ela que determina a natureza da sociedade capitalista.
Na sociedade capitalista as classes sociais fundamentais são: a burguesia e o proletariado.
A burguesia é a classe dos donos das fábricas, das fazendas, das minas, do grande comércio, dos bancos etc. Enfim, são os proprietários particulares dos meios de produção. isto é, são os donos do capital. Por isso se chamam capitalistas. Estes meios de produção constituem um capital, porque são utilizados dentro de uma relação de exploração, como veremos adiante.
O nome de burguesia se deve ao fato de que, quando esta classe se formou, no fim do feudalismo europeu, tratava-se de comerciantes e pequenos industriais que viviam nas pequenas cidades (burgos). Não eram nobres, nem eram mais servos que lavravam a terra nos feudos.

Eram um tipo de classe média que depois se transformou na classe dominante.
O proletariado é a classe dos que, não sendo proprietários dos meios de produção, só possuem como propriedade sua força de trabalho, que eles vendem por certo tempo à burguesia, em troca de um salário.
E verdade que, dentro do proletariado, existem trabalhadores que ganham mais que outros. Por exemplo: um ferramenteiro ganha mais do que um ajudante. Mas tanto um como o outro vivem do seu trabalho. Se pararem de trabalhar, nem um nem o outro têm como sobreviver. Por isso, os dois são proletários,
O nome proletário já era dado na antiga Roma às pessoas que não possuíam nada, a não ser sua prole, isto é, seus próprios filhos. No início da sociedade capitalista, o proletariado se formou de antigos servos que saiam dos feudos e vinham para os burgos ;em nada possuir, e também de artesãos que não tinham mais condições de competir com as máquinas dos burgueses. Assim, os proletários são homens livres em dois sentidos: não estão mais presos aos feudos, e também não têm mais nada de seu à não ser a sua própria força de trabalho.
Portanto, na sociedade capitalista existe uma separação entre o capital e o trabalho. Quem trabalha diretamente não possui os meios de produção, e quem possui os meios de produção não trabalha diretamente. A burguesia usa a força de trabalho dos proletários para fazer funcionar seus meios de produção, e assim produzir mercadorias para obter lucros. Com esse lucro, além de viver com muito conforto e luzo, os burgueses melhoram em quantidade e qualidade seus meios de produção, para produzir mais mercadorias e obter mais lucros.
Esse processo repetido todos os dias é o processo de acumulação de capital. O proletariado, pelo contrário, não acumula nada, vendendo-se todos os dias no mercado de trabalho, para poder viver, ou sobreviver, geralmente muito mal, com muitas dificuldades.
Os burgueses, portanto, contratam os proletários para trabalhar em suas empresas, por determinado salário, durante tantas horas por dia, e em certas condições previamente tratadas. Os trabalhadores concordam formalmente com este "livre" contrato de trabalho. Qual é o jeito? Eles não possuem os meios de produção, estão livres deles. Também não estão amarrados por obrigação a nenhum senhor ou terra, são formalmente livres. Livre para vender sua força de trabalho ao mercado de trabalho, ou então se não quiserem fazer isso, livres para morrer de fome.
Esse "livre" contrato de trabalho feito individualmente, é um contrato que se faz entre duas pessoas que ocupam posições muito diferentes dentro da sociedade. O burguês, proprietário dos meios de produção, está numa situação privilegiada para procurar a mercadoria força de trabalho, encontra uma abundância na oferta. Se um trabalhador não aceita suas condições, há vários ou mais outros, concorrendo entre si, e certamente a aceitarão. O êxodo rural que, por diversos motivos, sempre acompanha o surgimento da produção capitalista encarrega-se de formar um excedente de oferta de força de trabalho, um verdadeiro EXÉRCITO INDUSTRIAL DE RESERVA.
O proletário, proprietário apenas da sua força de trabalho, encontra-se numa posição bastante desvantajosa e fica entre a cruz e a espada, isto é, entre a exploração do patrão e a miséria do desemprego. Esta é a liberdade" do trabalhador na socieda-de capitalista. Mas, para o burguês, o livre contrato de trabalho é uma liberdade sagrada dentro de sua economia de livre empresa.
Estas duas classes, a dos burgueses e a dos proletários, têm interesses que são objetivamente contrários e antagônicos, quer dizer, INTERESSES INCONCILIÁVEIS.
"Objetivamente" significa que isto não depende da boa ou má intenção das pessoas. Os interesses destas duas classes são inconciliáveis porque se uma ganha, a outra obriga-toriamente perde. O que é bom para uma classe é prejudicial para a outra.
A burguesia, que tem interesse em conservar sua situação privilegiada, tenta obscurecer o fato da divisão da sociedade em classes de interesses inconciliáveis, acenando para a ASCENSÃO SOCIAL, dizendo que o operário de hoje pode ser o patrão de amanhã. Mas a gente sabe que é quase impossível para o trabalhador assalariado conseguir a quantia necessária para montar uma pequena empresa. Além disso, mesmo que alguns operários individualmente mudassem de classe, nem por isso deixaria de existir a divisão da sociedade em classes de interesses inconciliáveis.
Desde que surgiu o capitalismo, muita gente percebeu que esse sistema produz grandes desigualdades e injustiças. Perceberam também que quanto mais a minoria burguesa vai enriquecendo, tanto mais a maioria proletária vai afundando na pobreza e miséria. Enfim, muitas pessoas perceberam e denunciaram a exploração.
Mas qual é o mecanismo pelo qual se dá a exploração? Isto não aparece logo à primeira vista. Foram necessários muito estudo e pesquisa para responder a esta pergunta. Quem conseguiu desvendar o mistério foi Karl Marx. Após, estaremos postando a continuação...
Fonte: http://www.sntpv.com.br/sindical/burgueseseproletarios.php


quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

DA ESCRAVIDÃO AO CATIVEIRO DA CARTEIRA DE TRABALHO!


     ACORDEM BRASILEIROS!!!! LEIAM COM ATENÇÃO E SEM PREGUIÇA!!

Introdução

“O Estado é um instrumento essencial de dominação de classes na sociedade capitalista. Ele não está acima dos conflitos de classes, mas profundamente envolvidos neles. Sua intervenção no conflito é vital e se condiciona ao caráter essencial do Estado como meio da dominação de classe”.
   “(...) o Estado representa o braço repressivo da burguesia. A ascensão do Estado como força repressiva para manter sobre controle os antagonismos de classe, descreve a natureza de classe do Estado”.
                                                          (Marx, 1978, p.65.)

     Desde os primórdios da humanidade o ato de trabalhar e modificar o mundo tornou-se necessário para a vida do homem. O desenvolvimento de ferramentas, moradias, técnicas de irrigação, entre outras coisas, foram fruto da engenhosidade do cérebro humano, mas principalmente do seu trabalho.

     Durante muito tempo trabalhar em grupo e para o grupo, foi a única saída encontrada por nossa espécie para se manter entre as que foram vitoriosas no processo seletivo natural. Mas com o passar do tempo a idéia do trabalho como uma necessidade humana foi desvirtuada. Um grupo muito pequeno de homens passou a explorar a força e o potencial do trabalho da grande maioria destes, usando a violência como coerção em um primeiro momento, e em um seguinte, a doutrinação psicológica.
    O uso da violência como coerção, criou a escravidão. Uma fonte de trabalho sem ônus físicos para aqueles que escravizavam, e uma vida desgraçada para os escravizados. Neste momento surgem duas visões para o trabalho a do senhor e a do escravo. O senhor via no trabalho uma fonte de riquezas inesgotáveis, pois este poderia ser facilmente reproduzido mediante a aquisição de mais escravos. Mas ele mesmo entendia que o ato de trabalhar era uma coisa sofrível que só poderia ser realizado por indivíduos, que na visão dele, eram inferiores. Já os escravos enxergavam o trabalho como castigo, exploração e queriam se livrar deste fardo a qualquer preço. Os dois lados percebiam que trabalho exigia um desgaste muito grande, mas as semelhanças param por aí. A partir daí surgem duas visões sobre o trabalho, a do senhor o valorizando, e a do escravo o expurgado.
    Com o passar do tempo criou-se a necessidade de substituir o trabalho escravo por outra prática mais lucrativa para o grupo de senhores, o trabalho assalariado. Mas como os senhores, que passaram a se chamar burgueses, iriam convencer os seus antigos escravos a continuar trabalhando? Sabemos que os ex-cativos adquiriram ojeriza por trabalhar para aqueles que os exploravam. Sendo assim, os burgueses desenvolvem outro tipo de coerção, não menos violento, mas muito mais eficiente. E melhor, este novo tipo de prática coerciva era invisível aos olhos, mas extremamente sensível ao cérebro. Esta invisibilidade material tornou este sistema muito mais competente que o outro, pois escondia sua face cruel e manipuladora dos trabalhadores.
    A doutrinação psicológica da grande massa de mão-de-obra em torno da valorização do trabalho era à meta almejada pelos burgueses. Este mecanismo deveria transformar uma prática sofrível, repugnante e exploradora em algo extremamente enobrecedor. O sistema doutrinário capitalista burguês foi muito eficiente, pois além de atingir sua meta ampliou as conquistas deste grupo.  O trabalho passou a ser a viga mestra da sociedade e a massa se autodividiu em aqueles que trabalham, e são considerados “alguém”, e naqueles que não trabalham e são “ninguém”. Mas os burgueses não ofereciam trabalho a todos, por isso uma parte dos trabalhadores ficou resignada a ser “ninguém”.
    Com o passar do tempo e o avanço tecnológico o percentual dos “ninguém” cresceu assustadoramente, e conter a pressão dos não inclusos se tornou necessária. Assim a burguesia ampliou a doutrinação destes trabalhadores, tanto dos ativos como os da reserva, visando perpetuar sua dominação sobre a força de trabalho destes grupos.
    Tentaremos demonstrar como este modelo foi aplicado ao Brasil, no Império, a partir de 1850, e na República, até a década de 1930. E principalmente comprovar que o cativeiro dos que trabalham não se findou junto com a escravidão. Demonstraremos que a dominação tornou-se ainda maior, pois a carteira de trabalho e os direitos trabalhistas, maculam o “cabresto” da burguesia sobre a classe trabalhadora.

O dilema da liberdade

    A partir de 1850 a pressão capitalista bate as portas do Brasil, a Inglaterra passa a exigir do governo imperial o fim da escravidão. A idéia dos ingleses era de criar um grande mercado consumidor por aqui, que absorvesse parte de sua produção industrial, mas a escravidão acabava limitando seus planos.
    Como sabemos o trabalho escravo acabou restringindo o mercado consumidor brasileiro, pois a grande massa de pessoas que viviam no país era formada por escravos e homens livres que se dedicavam a práticas econômicas de subsistência. Mas para conseguir inserir o Brasil na nova divisão internacional capitalista do trabalho, a Inglaterra aumenta a pressão, e os escravocratas brasileiros percebem que seria inevitável a inserção do país neste contexto e, por conseguinte extinguir a escravidão.
(...)E tendo em conta tais condições, os ex-escravos teriam partido para a negociação com seus antigos senhores. Para o liberto interessava, pelo menos, a manutenção de seu grupo familiar e o acesso à terra.”
                                                (Linhares, 1990, p.167.)
 Além disso, começava-se a fomentar a idéia de como a mão-de–obra cativa seria substituída e a principal proposta para supri-la, era à entrada de imigrantes europeus no Brasil. Então para limitar o acesso a terra, o Estado cria a Lei de Terras que dividia as propriedades em duas categorias: particulares e públicas. Esta lei marca o início da participação do Estado na instauração da ordem capitalista no trabalho em nosso país. Pois limitando a criação de pequenas propriedades, liberava uma grande força de trabalho que poderia se tornar útil a nova ordem econômica.
        Mas o fim da escravidão não era um dilema apenas para os que escravizavam, pois os cativos depois de libertos seriam inseridos em um mundo que não queria os absorver, e pior talvez ter que continuar trabalhando, só que de forma assalariada, para aqueles que tanto os exploraram.
        “(...) no decorrer do cativeiro, ele aprendera a entender liberdade como possibilidade de ter certa independência no mundo do trabalho, o que lhe seria facultado pelo tipo de relação que mantivesse com a terra. Nesse sentido, compreende-se a sua resistência ao assalariamento e ao trabalho em turmas (regime aplicado na fazenda escravista), ambos vistos com simpatia pelos senhores”.
                                                                                      ( Linhares, 1990, p.167-168.)
        Assim chegamos a uma fase em que o trabalho, na sua versão assalariada, era interpretado de duas maneiras, uma como fonte inesgotável de riqueza pela aristocracia, pelo Estado e pelo grande capital internacional, e outra como uma continuação da exploração e humilhação pelos ex-cativos. Então para resolver esse problema interpretativo, o Estado entra em cena mais uma vez e passa a propagar uma doutrina de valorização do trabalho.
        O Estado constrói a imagem do cidadão ideal, este deveria viver de seu trabalho remunerado e respeitar as leis vigentes. Caso a conduta não fosse essa, a pessoa seria taxada como vadia e estaria sujeita punições legais, para garantir isso, o ministro Ferreira Vianna acaba baixando uma medida contra a vadiagem e a desordem ainda em julho de 1888. Aos olhos da elite a abolição representava uma ameaça aos privilégios ancestrais deste grupo e a ordem socioeconômica que estava se estabelecendo. Os donos do poder possuíam um temor muito grande de uma revolta negra que pudesse causar uma ruptura na estrutura social do país, como havia ocorrido no Haiti no início do século XIX. E só existia uma condição para barrar o avanço destas crescentes massas, molda-las em torno da ideologia do trabalho assalariado enobrecedor.
        A libertação dos escravos em 1888 e a constante chegada de imigrantes europeus fizeram crescer consideravelmente a concentração de mão-de-obra disponível no Brasil, e com o aparato legal ao seu lado, Estado e elite conseguiram doutrinar essas forças produtivas, e atender os interesses do capital internacional. Transformaram um exercício sofrível e repugnante em um ato enobrecedor, digno e que tornavam todos aqueles que o praticavam em cidadãos, levando-se em consideração, claro, que a cidadania se restringia a um grupo muito pequeno de direitos aos quais as pessoas tinham acesso neste período. E ser explorado pelos burgueses, que multiplicaram sua mais-valia com o assalariamento do trabalho, era um deles. Mas como não havia condições de dar esses direitos a todos, e principalmente trabalho, mesmo essa a cidadania restringida criada pelos burgueses do século XIX, não chega a todos.
    1. Com o advento da República em 1889 e o decorrer do século XIX esta doutrina acaba se intensificando no Brasil.

    Da doutrina ideológica ao controle institucionalizado

        A instauração da ordem capitalista no campo e suas possíveis negações eram facilmente controladas no meio rural. Pois os grandes fazendeiros conduziram a implantação do capitalismo no campo com mão de ferro. Seu mandonismo e sua experiência em controle social, adquiridos durante a escravidão, foram de extrema importância.
    “Enquanto proletário, o trabalhador rural se encontra prática e ideologicamente divorciado dos meios de produção, da fazenda, da casa-grande, da capela, do fazendeiro ou seus prepostos. Ele se encontra fora da fazenda, física e ideologicamente. E o fazendeiro, com seus prepostos (feitor, capataz, administrador, ou outros) são os outros. Podem conceber-se como diferentes, quanto a direitos, deveres e ambições. Organizaram-se e pensam a si mesmos como categorias distintas”.
                                                                                (Ianni, 1976, p.159.)
        Delinearam-se as fronteiras e aprofundavam-se as divisões entre o mundo dos fazendeiros (burgueses) de um lado, e o mundo dos trabalhadores (proletário), de outro. A nova forma de se praticar o trabalho acabou não sendo muito diferente da antiga, pois os empregados acabavam devendo mais dinheiro aos pequenos comércios (que pertenciam aos donos da terra) que existiam nas fazendas, do que recebiam dos fazendeiros, e ficavam presos ao latifúndio enquanto não se livrassem das dívidas.
        O medo dos ex-cativos acabou se materializando, pois esta condição era ainda pior que a escravidão. Estavam presos as fazendas sem condição de se alimentarem, pois tinham que pagar pela comida, e se tentassem fugir seriam tratados como criminosos. E no caso dos imigrantes, a experiência de trabalhar em regime de parceria não foi também muito gratificante, pois este trabalhador acabou se afundando em dívidas com seus patrões, eram proibidos de deixarem as fazendas e se fizessem algo que os fazendeiros não gostassem, poderiam sofrer até castigos físicos.  Mas os imigrantes foram levados a acreditar que o trabalho duro e contínuo era uma forma de conseguir a independência, e até enriquecer, por isso o colono se conformava em trabalhar para o fazendeiro. Para que uma relação social que é necessariamente desigual possa se manter, não basta à vontade do mais poderoso, é preciso também, que aqueles se encontram inferiorizados acreditem que as coisas devam ser assim como são e não de outro modo.
        A ideologia da valorização do trabalho não poderia nunca ter surgido em uma ordem exclusivamente escravocrata. O regime de trabalho escravo apresentado aqui no Brasil acabou causando uma deformação na idéia de trabalho. Ainda que ninguém na sociedade escravocrata estivesse completamente livre de trabalhar, nem mesmo os senhores, o trabalho, especialmente as atividades manuais, era considerado algo próprio dos escravos, não de homens livres. O imigrante europeu, que não conheceu um passado de escravidão, chegou até ser ludibriado por essa doutrina, mas com o passar do tempo acabou percebendo a tentativa de dominação ideológica.
         O trabalho assalariado era muito mais lucrativo para os fazendeiros do que a escravidão, e a mão-de-obra imigrante subvencionada pelo Estado completava esse quadro de bônus. Os donos de terras percebem logo no início do assalariamento do trabalho que seus lucros seriam muito maiores com essa pratica econômica, do que era com a escravidão. A participação do Estado neste processo de mudança no conceito de trabalho, no campo, foi de extrema relevância para os interesses da elite e do capital internacional. Pois para o grande capital, e principalmente para os ingleses, o Brasil havia a se inserido no grande mercado consumidor de seus produtos.
        Durante o ultimo quartel século XIX, surge outra força, o tímido proletariado urbano, este formado na sua maioria por imigrantes europeus que fugiram das fazendas e foram trabalhar nas pequenas indústrias têxteis de São Paulo e Rio de Janeiro, então capital do país. Não formavam um grande grupo, não eram considerados cidadãos e não podiam participar da vida política do país, mas possuíam uma arma muito poderosa, a ideologia anarquista.
        “No plano dos princípios, o anarcossindicalismo brasileiro definia o sindicato como órgão de luta, que recusa funções assistenciais (em contraposição às associações mutualistas), aberto aos operários de todas as tendências políticas. A verdadeira força do sindicato repousa na solidariedade e não nos recursos materiais. Quando reúnem grandes fundos, se tornam ‘timoratos, inativos, conservadores’. O dinheiro corruptor pode constituir apenas um caixa de resistência e deve ser gasto sem muita demora na propaganda e na agitação. Nas greves, é preferível contar com o apoio mútuo entre os operários do que com esse tipo de recurso. A defesa de reivindicações imediatas tinha o mesmo objetivo de reforçar a solidariedade, despertar a consciência dos trabalhadores, em busca da emancipação final”.
                                             (Fausto, 1977, p.75-76).     
        Se esta base ideológica fosse repassada a esse grande contingente formado por ex-escravos, por mestiços e por brancos pobres, poderia aglutinar essas forças em torno de um ideal: dar fim ao poder do Estado e da elite que os oprimia e os excluía, e que só os tolerava, pois estes serviam aos interesses do capital.
        Apesar de toda doutrinação o proletariado urbano não era tão facilmente ludibriado quanto o rural, sua força era sentida em suas manifestações, pois diferentes dos escravos, os trabalhadores europeus conviviam com o trabalho assalariado há algum tempo e já conheciam suas contradições. Este proletariado importado trazia consigo um histórico de lutas contra a extrema mais–valia praticada por seus patrões capitalistas europeus. Este grupo reproduziu no Brasil sua organização de resistência a exploração dos empresários, fundando por aqui sindicatos que passaram a representar seus interesses. Estas instituições passaram a articular todo tipo de manifestações contra a dominação capitalista, e seus movimentos foram sentidos pelos poderosos, que se organizaram para evitar a propagação da ideologia anarquista. Pensamento este, que não era favorável aos planos de dominação da elite.
        Percebendo este perigo eminente, a elite usa o Estado e todo seu aparato mais uma vez, principalmente sua força policial, para reprimir qualquer aglomeração destes grupos, proibindo-os de se manifestarem em público. Como podemos ver, as reivindicações das massas ou sua participação em algum movimento, eram tratadas como crime, pois quem tentasse reverter o status quo, de acordo com a doutrina oficial, não deveria ser bem visto por todos. O ideal era que o trabalhador remunerado fosse ordeiro e pacifico, que aceitasse a exploração burguesa e sua posição social subalterna. Esta tentativa de alienação ideológica e de supressão do sentimento de classe por parte do povo funciona, mas por um curto período, pois nas primeiras duas décadas do século XX as massas voltariam a cena. E começariam contestar a visão sobre trabalho difundida pela elite através do Estado.
        Esta contestação se inicia por São Paulo, onde surgia uma nova força, que apesar de pequena em contingente, era forte em ideais. Os sindicatos dos trabalhadores das fábricas paulistas, em sua grande maioria formado por imigrantes europeus, perceberam a dominação silenciosa e se mostraram fortes, principalmente após a greve geral de 1917 e do advento da Revolução Russa, que influenciou a fundação do P C B em 1922. Fato este, que deu novo animo ao movimento. Durante essas duas décadas o proletariado urbano brasileiro cresceu e começou a montar seu perfil.  Sua força de resistência à doutrina emanada pelo Estado incomodou tanto os segmentos da elite, que após a Revolução de 1930 estes grupos foram incorporados ao jogo político. Os poderosos acabaram percebendo que a cada vez que tentavam diminuir a resistência do proletariado a doutrina do trabalho, tornava-o mais unido e mais forte. Por esse motivo, a elite passou a usar uma nova tática de dominação, trouxe os sindicatos para o jogo político, só que sob a tutela do Estado. Para que está manobra se tornasse eficiente era necessário que o Estado intervisse no proletariado com força total. E isto acontece, o Estado institucionaliza a dominação capitalista com uma série de atos constitucionais que tornam o trabalho assalariado extremamente atraente.
        A partir de 1930, o governo Vargas passa a ditar uma nova política de desenvolvimento econômico e social para o país. Esta política tinha como base à industrialização, Getúlio pretendia criar uma alternativa econômica, viável, que contrabalançasse com o setor agro-exportador e que oferecesse grandes condições de crescimento. Este plano de industrialização faria crescer sensivelmente o proletariado urbano, e prevendo sua tentativa de ascensão, Getulio, rapidamente, inicia a institucionalização de garantias profissionais a estes trabalhadores. Era preciso delimitar o espaço dos operários na estrutura social, econômica e política do Estado, mas ao mesmo tempo valoriza-los.
        Esta outra etapa de valorização da mão-de-obra assalariada foi muito mais intensa, pois o Estado, na figura do presidente, participa diretamente das negociações para a criação da legislação trabalhista, esta que havia sido inspirada na Carta del Lavoro da Itália fascista do ditador Benito Mussolini. Entretanto, o controle sobre as massas operárias não se efetivava apenas através da incorporação dos sindicatos ao Estado e da legislação trabalhista paternalista. Era preciso ir mais além, por isso o governo passa a usar a educação, os meios de comunicação e as artes do país em sua sistemática cooptação trabalhista do proletariado. Podemos perceber a preocupação do Estado em controlar a vida do trabalhador, durante esse período, no comentário a seguir de Maria Auxiliadora Guzzo Decca.
    “(...) Problemas enfrentados pelo operariado no dia-a-dia foram pesquisados, diagnósticos, avaliados por várias instituições, grupos sociais, agências ligadas ou não ao poder público, sendo equacionadas soluções de alcance diverso para os mesmos. Eficazes ou não, essas soluções nunca esconderam intenções de controle, a despeito de constituírem práticas de caráter essencialmente repressivo. Um conhecimento ‘técnico’ da condição operária foi constituído na década de 1920 e 1930, sendo retirada progressivamente do trabalhador à autodeterminação do seu modo de vida”.
                                                                                   (Decca, 1987, p.12.)
        A doutrinação em torno do trabalho chega a um nível cultural, e este ideal passa a fazer parte dos costumes do povo.  Todos passam a sonhar com uma colocação no mercado de trabalho e com sua carteira assinada por algum empresário. A maciça propaganda em torno do trabalho feita pelo governo varguista conseguiu reverter, em favor do Estado e da elite, todo aquela força emanada pelos trabalhadores. E a carteira de trabalho se torna o título de propriedade do empresário (senhor) sobre o trabalhador (escravo).
        Até o fim da década de 1930 a dominação se intensifica, e transforma o trabalho assalariado e legal na espinha dorsal da nossa sociedade. Esta prática se instalou em grande escala por aqui, diminuindo o número de micros, pequenos e médios proprietário, e de empresários. E acabou concentrando os meios de produção nas mãos de um pequeno grupo, que retira até hoje uma grande mais-valia do trabalho assalariado da massa proletária brasileira.
        A escravidão e a exploração se intensificaram mesmo depois de 13 de maio de 1888, a carteira de trabalho reproduziu, com mais intensidade, a opressão da elite, a através do Estado, sobre o operariado. E até hoje buscamos alforria das leis trabalhistas, direitos que limitam nossa participação nas reivindicações de melhores condições de trabalho. Direitos estes que não conquistamos, mas que foram impostos pelos poderosos, na ânsia de manterem seus privilégios.

    Referências bibliográficas

    DECCA, Maria Auxiliadora Guzzo. A vida fora das fábricas. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.
    FAUSTO, Boris. Trabalho urbano e conflito social. Rio de Janeiro, Difel, 1977.
    IANNI, Octavio. Relações de produção e proletariado rural. São Paulo, Nacional, 1976.
    LINHARES, Maria Yedda. História geral do Brasil. Rio de Janeiro, Campus, 1990.
    MARX, Karl. Marx. São Paulo, Abril Cultural, 1978. Coleção Os Pensadores.

    terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

    5 mentiras e 5 verdades sobre o Comunismo


    Cinco mentiras, que se dizem, verdadeiras do comunismo, mas que acabam sendo cinco verdades do capitalismo.

    1 – Comunistas são contra religiões e todas seriam perseguidas e proibidas num Estado comunista. Mentira, a liberdade religiosa é parte importante da liberdade de opinião e manifestação cultural, garantias que nunca poderão ser atingidas no Estado capitalista. Só o comunismo pode levar a superação das mazelas que alimentam o capital, como a ganância, que é a grande geradora das guerras, inclusive entre religiões.

    2 – Comunistas não respeitam a opinião alheia e perseguem todos aqueles que pensam o contrário, já o capitalismo dá a liberdade real. Ledo engano, não só a religião é motivo de perseguição no capitalismo. Nos Estados Unidos e nos países do Mercosul, durante décadas, pessoas foram tratadas como bandidos por serem "culpadas por comunismo". Algumas eram presas, torturadas, ou até assassinadas por cometerem crimes hediondos como denunciar abusos e a corrupção do estado e das empresas que o patrocinam, ou até ensinar pobres analfabetos a lerem.

    3 – Só o capitalismo admite liberdade de imprensa. Outro equívoco, se analisarmos o nosso país, veremos como a liberdade de imprensa é censurada num país capitalista. O que existe aqui é uma "liberdade de empresa". Os conglomerados midiáticos estão sempre querendo calar todo o foco de resistência ou de informação que não as convêm. O exemplo da vida de perseguição do Blogueiro Mosquito é exemplo disso. A mídia empresarial sempre esteve ao lado do estado capitalista na tentativa de tapar os olhos do povo, para que políticos e empresários corruptos utilizassem os recursos do povo para enriquecerem cada vez mais. A atuação dos veículos da Editora Abril e das Famílias Marinho, Sirotsky, Saad, entre outras, em apoiar a ditadura, as torturas e as mortes causadas por ela, são um claro exemplo de que a mídia corporativa e a censura caminham de mãos dadas. Até hoje, o direito a voz está limitado aos interesses mesquinhos destes empresários. Nos países que caminham para uma revolução socialista, a liberdade de imprensa é uma realidade. Na Venezuela a constituição garante o livre funcionamento de Rádios e Tv's comunitárias. No Brasil elas são perseguidas pelas empresas e pelo Estado, que limita o seu funcionamento.


    4 – Comunistas não amam, são muito racionais e, por isso, frios. O que é isso, companheiro? O Comunismo é a mais pura demonstração política e social do amor. Como crescemos em um país capitalistas, desde cedo somos acostumados com os seus dogmas, que nos ensinam a desconfiar de tudo e a agir pensando apenas em si. Não existe amor maior que o amor ao próximo. No mundo capitalista, em meio às guerras, à fome e ao descaso com a saúde do homem e do planeta, as pessoas se refugiam e sobrevivem se alimentando do amor de suas queridas moedas.

    5 – No comunismo são todos pobres, ninguém tem permissão de ter nada, as pessoas vão invadir sua casa, suas terras e até usarem sua escova de dente. Piada de mau gosto. A concentração de renda, terra e conhecimento, só impede que a maior parte do povo tenha acesso a bens, estudo e, por tanto, à liberdade. No capitalismo poucos concentram muito, isso impede que muitos tenham o seu pouco. No comunismo, sem o culto à acumulação, todos têm oportunidade de usufruir de bens, serviços e dos recursos da terra.


    Fonte: http://www.diarioliberdade.org/index.php?option=com_content&view=article&id=23352:5-mentiras-e-5-verdades-sobre-o-comunismo&catid=69:batalha-de-ideias&Itemid=83 

    quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

    Educação cubana é um exemplo!!!




                                         Escolas Feias, Escolas Boas?

    Claudio de Moura Castro
    Rio de Janeiro, 1999.     

      RESUMO
    Escolas Feias, Escolas Boas?

            Muito se discutia e se duvidava da qualidade das escolas cubanas. A pesquisa da OREALC/UNESCO resolveu tal assunto. Cuba tem excelentes escolas, melhores do que nos outros países latino-americanos. Portanto, a pergunta que substitui é por que a s escolas são boas?
            Baseado em visitas rápidas e superficiais demais para que se possam considerar tais resultados mais do que especulação, identificamos alguns fatores que parecem explicar o desempenho superior de Cuba.
            O ensino é sério e quase convencional. Certamente, não é pela presença de inovações ou novas soluções milagrosas que se obtém qualidade. As instalações são horríveis. As bibliotecas são desatualizadas e os laboratórios velhos (mas usados com freqüência).
            No entanto, a jornada escolar é enorme, passam-se muitas horas na escola e o calendário é longo. Em segundo lugar, os professores, presentes 40 horas por semana, são muito dedicados e bem preparados. Não é que os professores ganhem muito, mas ganham pelo menos tanto quanto engenheiros e médicos. E, em uma economia com poucas alternativas, o magistério acaba sendo uma ocupação muito central valorizada.
            Que lições os países latino-americanos poderiam tirar da experiência cubana? Difícil reproduzir a enorme carga horária e competitividade da profissão diante de outras exigindo mesmo nível de educação. Mas há várias outras lições mais viáveis, discutidas pelo ensaio.

                                                
    Escolas Feias, Escolas Boas?


            Ao subir as escadas da escola primária, cresceu nossa surpresa. Que mensagem os funcionários do Ministério da Educação estavam tentando nos passar? Por que diabos escolheram uma escola tão maltratada para ser visitada? O edifício é de estilo "moderno" e lembra a arquitetura dos anos sessenta. Mas se foi construído de forma lambona, a manutenção foi pior ainda. Melhor dizendo, nunca ocorreu. Os corredores estão imundos, as salas de aula quase em ruínas e o escritório do diretor em mau estado. Nem os professores e nem o diretor tinham um aspecto bem cuidado ou estavam bem vestidos.
            A escola secundária reflete um passado mais majestoso. Tinha sido uma escola de freiras, servindo à aristocracia local. A construção é espaçosa, os tetos são altos e, realmente, o prédio oferece tudo que uma escola séria deveria ter. Exceto Manutenção. O chão perdeu todos os vestígios de cera. As carteiras e cadeiras estão em um estado lamentável, quebradas, arranhadas e implorando reparos. As janelas das salas de aula há muito tempo não existem, quando chove, também chove dentro das salas de aula. Os laboratórios realmente existem, para a nossa surpresa. O laboratório de física é uma coleção de instrumentos da Polônia, Checoslováquia, Hungria, Rússia e Espanha. Estão operacionais, mas não causam muito entusiasmo. A biblioteca exibe, na sua maioria, livros velhos, alguns muito velhos. Tem também uma inesperada coleção de livros de literatura clássica brasileira, mas a da Rússia é maior ainda. De livros novos, somente algumas publicações da UNESCO.
            No geral, as escolas não estavam particularmente limpas, estão duramente maltratadas e não vêm recebendo nenhuma manutenção há muito tempo. Estes são os últimos lugares onde podíamos esperar uma boa educação. Faz sentido, má manutenção anda lado a lado com má instrução. Como uma educação séria pode acontecer nesses lugares tão desleixados?
            Entretanto, a dedução acima está frontalmente errada. Estas são as escolas cubanas que obtiveram pontuações muito acima das outras de todos os países da América Latina, na pesquisa da OREAL/UNESCO em dez países. Realmente, enquanto Brasil, Argentina e Chile empataram em segundo lugar, Cuba foi o país vencedor, por uma sólida margem. Em outras palavras, gostemos ou não, a educação de Cuba é a melhor da América Latina.
            As duas escolas foram selecionadas, de última hora, para a nossa visita, porque eram as mais perto de onde nós estávamos na hora do almoço. Tudo indica serem amostras representativas das escolas cubanas. De acordo com os próprios professores, nem melhores, nem piores.
            Como é que os cubanos conseguem ter a melhor educação latino-americana? Nossa visita indicou que não há segredos, mas a simples aplicação de bom senso e, sobretudo, muita dedicação.

                                          A Escola Primária (1ª a 6ª série)
            Mais ou menos a metade de aproximadamente um milhão de crianças com até cinco anos de idade freqüenta algum tipo de pré-escola. Trata-se de uma taxa muito alta, sob qualquer ponto de vista. Segundo os professores entrevistados, as pré-escolas enfatizam sobretudo o brincar. No entanto, os alunos aprendem também o alfabeto. Alguns aprendem a ler, sem pressões ou a presença de um currículo para ser seguido rigidamente.
            A escola primária tem 5 ou 6 horas de aula todos os dias. Quando incluímos os esportes, a presença na escola chega perto das 8 horas, em ano escolar que dura aproximadamente 200 dias. Este é o segredo número um da educação cubana: muitas horas nas escola. Aqui está em vigência a teoria simples de que quanto mais se estuda, mais se aprende. Ao que parece, o total de horas escolares por dia é muito maior que em qualquer outro país da América Latina.
            Há 20 ou 30 alunos por turma. Este é o padrão para as escolas ocidentais (contrastado com os 40 alunos por turma da Coréia e Japão).
            A escola visitada perde não mais que 1% de seus alunos nos primeiros seis anos. A evasão é residual e tem a ver com a mudança dos pais para outro lugar. Reprovações e repetência de ano simplesmente não acontecem (as estatísticas nacionais mostram proporções de 1,9%, 2,8% e 1,8% para as escolas primárias, médias e secundárias, respectivamente). No final do 4° ano, há um teste pelo qual todos os alunos tem que passar. Pelo que os professores dizem, todos que apresentam resultados normais em testes de Q.I. não tem nenhuma razão para falhar. Se o interesse dos alunos está diminuindo(ou se são preguiçosos, uma expressão de que os pedagogos não gostam muito), os professores procurarão alguma coisa que lhes interesse. As aulas estão sintonizadas com as necessidades individuais dos alunos. Mas além disso, os professores alegam que há uma forte pressão social para fazer as coisas bem feitas na escola, já que isso é o orgulho nacional, uma das áreas em que Cuba tem se apresentado melhor. De fato, através de conversas aqui e acolá, dá para acreditar na força da pressão social por educação em Cuba.
            Ao terminar o primário, os alunos são automaticamente matriculados na escola secundária mais próxima. É dado por certo que todos os alunos passarão para a escola secundária.
            Tentamos sondar os professores e os diretores sobre as modas pedagógicas. Que tal Vigotsky, perguntamos, para ver a que grau o grande guru da América Latina havia alcançado a ilha? De fato, havia desembarcado. Mas os professores não estavam cativados ou hipnotizados por ele, no mesmo paroxismo observado no território continental. Tais modas pedagógicas não haviam eletrizado os professores com que conversamos. Entenderam Vigotsky dizer aos professores que tentem fazer os alunos descobrir o mundo, que o explorem, que tentem encontrar suas próprias soluções para os problemas. Mas não virou religião.
            Os professores indicaram que a "leitura fluente" é o maior objetivo nos anos iniciais. Querem assegura que as crianças possam dominar essa habilidade que é a mais central da educação. Nada a discordar.

                                            A Escola Média (7ª a 9ª série)
            A escola média é organizada com um único formato, com todos os alunos estudando as mesmas onze matérias. Esse número excessivo de disciplinas é claramente antiquado, já que a nova tendência mundial é oferecer menos disciplinas com mais profundidade.
            Esta tendência parece ser levada em conta no novo programa experimental que está sendo experimentado em 280 escolas médias cubanas. Nessas escolas, Espanhol, Matemática e História recebem muito mais atenção. As disciplinas restantes se tornam "subordinadas" às três. Pelo que entendemos, irão apoiar as três principais disciplinas, por via de uma cooperação interdisciplinar.
            Foi muito instrutivo ver como as aulas de ciências são ministradas. Os alunos tem três horas de Física por semana e boa parte desse tempo é gasto no laboratório. Os alunos fazem experiências, utilizando equipamentos modestos. Por exemplo, aprendem a Lei de Ohm conectando uma fonte de força a um amperímetro e uma lâmpada As medidas dos alunos devem confirmar o que a fórmula matemática teria previsto.
            Todos os alunos tem duas horas de informática por semana. A terrível pobreza que se manifesta no mau estado de reparação dos edifícios mostra sua cara no laboratório de informática. Há meia dúzia de computadores. Quatro são MSX, uma tentativa falida da Microsoft para criar um sistema operacional para computadores escolares ou caseiros. Seu fracasso e abandono aconteceu em meados dos oitenta. Os computadores que vimos são programados por gravadores de fita e usam televisores velhos como monitores. Os outros dois computadores são os primeiros modelos MS-DOS. Não há impressoras operacionais. Os alunos aprendem a trabalhar no DOS e no WordStar. Não há nenhum esforço para ensinar a usar os dez dedos no teclado. Na realidade, os rapazes acham que datilografia é uma atividade feminina. No geral, os esforços com a educação informática são plenamente frustrados pelas deficiências de hardware.
            Foi curioso ver o termo "aprendizagem frontal" sendo usado. Entendo que foi E. Schiefelbein quem o fez popular. E o termo foi igualmente usado em um tom crítico. O professor de Física afirmou que alternava aprendizado frontal com experimentos de laboratório.
            Espera-se que todos os alunos tomem parta na "educação para o trabalho". Isso soa como uma relíquia da influência soviética, ou, talvez uma relíquia ainda mais velha dos "trabalho manuais" da educação ocidental. Todos os alunos, homens e mulheres, cursam um ano de desenho. No ano seguinte, há um pouco de talha em madeira, usando os modelos desenhados no primeiro ano. Este curso é também para ambos os sexos. No terceiro ano, os garotos vão trabalhar com madeira e as moças para a costura. Na realidade, as escolas russas de hoje já avançaram muito mais, tendo uma variedade muito maior de atividades e menos delimitação de gênero nas opções.
            O dia escolar é ainda mais longo que no primário. Os alunos chegam na escola às 7:30, almoçam entre 12:30 e 14:00, e saem da escola às 17:30. No geral, oito horas e meia na escola, dez meses por ano. As tardes são menos acadêmicas, com esportes, visitas ou outras atividades mais leves. Os estudantes devem passar mais ou menos uma hora adicional em casa fazendo pesquisas e projetos especiais. Isto chega perto das dez horas diárias de educação, durante um longo ano escolar.
            A nota média dos alunos no final do 9° ano tem um papel forte na determinação do tipo de educação secundaria que eles cursarão. Notas altas significam um acesso mais fácil às carreiras pré-universitárias, as mais desejáveis para pais ambiciosos. Aqueles que tem notas mais baixas serão matriculados em algum dos vários cursos técnicos, uma coisa que nem todos os pais gostam, mas parece que não lhes resta muito a fazer.

                                            Escolas como Instituições Totais
            Os cubanos seguem a tradição russa de fazer das escolas instituições totais. As escolas exercem muitas funções, incluindo educação, saúde e lazer. A educação cívica recebe muita atenção. É curioso notar que o "anti-imperialismo" é listado como um dos valores cívicos a ser desenvolvido pelas escolas.
            Há um médico e uma enfermeira responsáveis pela escola. Os alunos tem a sua saúde geral checada a cada semestre e, a cada semana, escovam os dentes com flúor. Também nessa época verificam se tem piolho. Altura e peso são periodicamente medidos, para assegurar que os alunos estão bem nutridos e saudáveis. As vacinações são igualmente feitas na escola.
            O almoço oferecido pela escola parece ser objeto de muita preocupação, para assegurar que o menu esteja nutritivamente balanceado. Usam muito os derivados de soja, para equilibrar o conteúdo de proteína. A escola recebe comida do governo e a prepara de acordo com um menu semanal. A presença de leite e arroz é cuidadosamente balanceada para assegurar uma nutrição apropriada. Obviamente, o almoço é grátis.
            A cada ano os alunos recebem um conjunto grátis de livros, que devem ser retomados no final das aulas. Os professores fazem uma estatística aproximada de quatro anos de vida útil para os livros. No princípio, os livros vinham da Rússia. Atualmente, Espanha e México são os principais fornecedores. É interessante contrastar os altos gastos na compra de livros, com extremo estado de deterioração em que se encontram os prédios e equipamentos. Em outros países, a maioria das administrações escolares presta mais atenção aos edifícios que os livros.
            No começo das férias, os pais são convocados para uma reunião com os professores. A presença dos pais é considerada importante para assegurar que os alunos não faltem às aulas. Qualquer estudante que falte mais que dois dias provocará uma visita a sua casa.
            Os professores alegam que as relações com os pais são fáceis e cooperativas. Em outras palavras, o medo comum de que os pais se choquem com as doutrinas e orientações pedagógicas é negado por esses professores e diretores. Todos os dias, os primeiros dez minutos de aula são dedicados ao hino nacional, moral e cívica, diálogos e assuntos organizacionais. Os pais são convidados a participar.
            Em um claro ato de fidelidade ao modelo escolar russo, as atividades do Programa Pioneiro ainda podem ser vistas nos quadros de aviso. Isso indica que o programa sobreviveu à saída precipitada da assistência técnica russa, depois da desintegração da União Soviética.
            Seguindo a mesma tradição russa, os alunos passam um mês em acampamentos, colhendo laranjas ou trabalhando nas plantações de cana-de-açúcar ou tabaco (a participação na colheita da cana e tabaco não funcionou, devido às exigências de destrezas não possuídas pelos alunos). Os professores alegam que os alunos amam o acampamento, de resto, mais do que eles, já que se tornam babás e mães de trinta alunos durante um mês. Igualmente remanescentes da influência soviética são os mutirões de trabalho para limpar as escolas durante as férias ou consertar os seus móveis. Tudo isso vai muito na linha dos objetivos marxistas-leninistas de criar um novo ser humano e de combinar o trabalho físico com o intelectual. Minha própria observação é que na Rússia os resultados não são muito impressionantes. Os alunos ganham larga experiência no trabalho manual, mas não necessariamente o respeitam, gostam dele, ou vêem uma clara conexão com o trabalho intelectual. Será que Cuba consegue melhores resultados?

                                                          Os Professores
            Todos os professores tem um diploma de educação superior, obtido após cinco anos em uma instituição especializada na preparação de professores. Este alto nível de escolaridade contrasta fortemente com a maioria dos países latino-americanos.
            No regime de trabalho do professor, é de se notar também algumas diferenças notáveis com relação às escolas latino-americanas. Os professores cubanos são contratados por 40 a 44 horas por semana e espera-se que ensinem de 16 a 20. São reservadas, portanto, 20 horas para preparar as aulas e interagir com os alunos. As salas de professores estão disponíveis para estas atividades extraclasse. Espera-se que, de fato, os professores permaneçam as 40 horas na escola. E o que é mais importante para qualidade do ensino, boa parte da preparação das aulas e materiais pedagógicos feita em regime colegiado. Os professores discutem e debatem seu trabalho entre si, bem como suas estratégias e seus problemas.
            Tendo tanto tempo a sua disposição, os professores tem excelentes possibilidades de aumentar o seu nível de educação. De fato, é permitido que dediquem um dia por semana para seu aperfeiçoamento profissional. Na escola secundária visitada, todos os 59 professores tinham feito cursos de pós-graduação (embora nenhum tenha terminado o mestrado). Além da possibilidade de alocar parte das 40 horas para o estudo, os cursos de pós-graduação conduzem a um adicional de salários, criando um grande incentivo para continuar os estudos.
            Os salários dos professores são sempre uma dimensão crítica para explicar o êxito ou fracasso das escolas. Pelos padrões internacionais, os professores cubanos recebem salários miseráveis. Eles começam com 235 Pesos, para professores primários, e alcançam um máximo de 600 para aqueles que se tornam diretores. Convertendo em dólar, o nível mais baixo corresponde a 10 dólares por mês. Entretanto essa conversão monetária tem que ser vista com muito cuidado, já que Cuba tem uma economia monetária dupla. Os professores, como a maioria das outras pessoas, permanecem no antigo sistema da economia soviética. Pagam de um a três dólares pelo aluguel, têm educação e seguro de saúde grátis. A comida é comprada através de uma caderneta que especifica as quotas permitidas para cada alimento. Em conversas informais com cubanos, o maior problema é a comida, já que as quotas são realmente parcas e não há muita variedade. Todos concordam que aqueles cubanos vivendo na economia do Peso - a maioria - têm uma vida espartana, mas têm o básico para sobreviver. De fato, são menos propensos a reclamar publicamente do que os russos no final da era soviética.
            Mas, inevitavelmente, o drama começa quando essa economia cruza com a economia do dólar, hoje totalmente legalizada. Um professor tem que trabalhar mais que dois dias para comprar uma Coca-Cola. Comprar um sorvete para um filho no fim de semana já é uma extravagância. Um almoço simples, em um restaurante de turistas, ou uma corrida de táxi custam o equivalente ao salário mensal de um professor. Como a economia do dólar fica cada vez maior, a coabitação dos dois sistemas se tornará crescentemente tensa e desconfortável, já que pessoas com menos escolaridade e menos talento recebem de vinte a trinta vezes mais que um professor ou um médico.
            Mas a questão relevante aqui é que exceto para os que operam na economia do dólar, todos ganham quase o mesmo. Um engenheiro receberá mais ou menos de 300 a 400 Pesos. Um médico de família recebe 430 Pesos. O que significa que os professores não estão em desvantagem, em comparação com outros profissionais, alguns até com mais diplomas. Quando adicionamos essa relativa igualdade com a importância dada à educação, é razoável pensar que a educação consegue atrair uma boa parcela dos jovens talentosos que se formam nas escolas secundárias. Não é um aspecto trivial, até mesmo em países industrializados. Isto é talvez uma das mais críticas vantagens das escolas cubanas.
            Outro fator crítico é que o pagamento do professor está de alguma forma relacionado com o desempenho dos seus alunos. Aqueles professores cujos alunos fracassam, obtendo notas abaixo das normas, arriscam-se a perder os seus suplementos de salário. Diretores e um comitê de professores examinam a performance dos alunos, medida nas provas (que são as mesmas para toda a escola) e concedem os complementos salariais aos professores cujos alunos se saem bem. Isto é pagamento por mérito, um dos mais persistentes desafios para qualquer sistema educacional. De uma visita rápida pode ser imprudente tirar tantas conclusões. Entretanto, há um fato claro: Cuba tem um sistema de pagamento por mérito, enquanto outros países discutem, brigam e terminam atolados em infindáveis discussões.
            Os professores das escolas primárias ficam com a mesma turma durante os quatro graus iniciais. Nas duas séries seguintes, a turma passa para um segundo professor. Isto significa que os professores podem melhor conhecer seus alunos, podem adaptar sua instrução a cada um, e podem reagir às necessidades emocionais e intelectuais de cada um deles. Um bom professor investirá quatro anos no desenvolvimento de cada aluno, podendo, por tanto, apreciar o progresso e lidar com os problemas encontrados. O lado negativo é que um professor terá efeitos devastadores nos seus alunos. Mas outra vez, o lado bom é que qualquer que seja o impacto, ele está bem documentado e somente pode ser atribuído ao professor. Na medida em que haja mais que um aluno prejudicado pelo desempenho deficiente de algum professor, isto se torna dolorosamente claro para todos. Portanto, trata-se de um sistema onde os professores realmente tem que prestar conta do seu desempenho. Não surpreende que uma alta dedicação por parte dos professores seja um dos pontos fortes do sistema cubano. A combinação da necessidade de prestar contas com o prestígio social da educação é uma fórmula poderosa.

                                                                Feia mas boa!
            Que as escolas cubanas são boas, já sabíamos, através dos resultados dos estudos da UNESCO-OREALC. A pergunta que resta é porque elas são boas. Uma rápida visita a duas escolas não é certamente uma credencial confiável para alguém discutir por que as escolas cubanas são boas. Mas por que não especular?
            O primeiro choque foi a aparência física. As escolas são feias. Estas visitas demostraram que escolas feias podem ser boas, talvez uma surpresa. Até aí, nada que ajude a entender.
            Mas claramente, estas escolas devem estar fazendo alguma coisa certa. Passemos a rever algumas das explicações mais razoáveis:

    1 - Quanto mais se estuda, mais se apreende. Os estudantes cubanos passam uma extraordinária quantidade de tempo na escola. Realmente, pouco tempo sobra para fazer qualquer outra coisa. Ademais, há muita pressão social para atingir esses objetivos. Educação é um componente central da sociedade cubana.
    2 - As escolas são capazes de individualizar a instrução para cada aluno. Os professores tem uma hora adicional na escola para cada hora em sala de aula, podendo, portanto, dedicar-se mais aos seus alunos. Eles podem usar esse tempo para um atendimento individualizado, ensinando a cada aluno o que quer que seja mais apropriado a cada um (com uma relação de 1 professor para cada 11 alunos em Cuba, o professor tem bastante tempo para cada aluno).
    3 - Os professores são bem recrutados e bem treinados. A educação tem um alto reconhecimento social e paga o mesmo que outras carreira superiores. Os professores não estão em desvantagem comparados com outros profissionais. Portanto o recrutamento de professores pesca bons candidatos. Além disso, em uma sociedade com altos níveis de escolaridade, os professores são treinados por um longo período de tempo.
    4 - Prestação de contas por parte dos professores. Os alunos são avaliados e o professor tem que prestar contas do desempenho deles. O pagamento depende da competência de cada um, para impedir um desempenho insuficiente dos seus alunos. Em outras palavras, como um economista diria, a estrutura de incentivos está correta. Quem se sai mal, paga seus pecados no salário do fim do mês.
    5 - A escola é uma instituição total. É muito central na vida dos alunos. Captura o tempo e a imaginação deles. E lida, igualmente, com todas as suas necessidades.

            Em contraste com essas dimensões altamente positiva, as escolas cubanas são bastante convencionais nos seus modelos de ensino. Oferecem um ensino sólido, mas não inovador. E, como mencionado, o fato de as instalações serem particularmente inadequadas não parece fazer qualquer diferença, em um país onde é deplorável o estado geral de manutenção dos edifícios. Uma forte preocupação é saber se Cuba pode continuar gastando 10% do seu GNP na educação, considerando a pouco que ela parece ajudar em economia travada por razões outras.

            Quais são as lições que poderiam servir para os outros países latinos americanos?
    1 - Mais meia horas de presença na escola é certamente uma lição fácil de deduzir. As crianças latino-americanas não passam um tempo suficiente na escola. Entretanto, manter professores em tempo integral é caro, muito caro mesmo. Neste momento, seria impossível para qualquer país latino-americano praticamente dobrar o número de horas contratadas com seus professores, embora quaisquer esforços para aumentar a jornada de trabalho provavelmente dariam resultados significativos.
    2 - Recrutar melhores professores é uma outra área onde Cuba se destaca e onde os outros países latino-americanos poderiam se sair melhor. Há um número de possíveis estratégias para fazer isso. Mas nem é possível diminuir os salários de outras profissões e nem aumentar os salários dos professores para níveis que fariam a profissão muito mais atraente. Algum aumento de salário faz sentido, quando nada, ele atenua as confrontações com sindicatos e reduz as perdas de tempo de estudo devidas às greves.
    3 - Aperfeiçoar a preparação dos professores é certamente possível e desejável. No presente momento, ninguém na América Latina parece concordar com a melhor fórmula para formar professores. Mas quase todos concordam que é importante fazer alguma coisa e que as experiências mais bem sucedidas devem ser replicadas.
    4 - Tomar os professores responsáveis pela performance dos seus alunos é o sonho de muitos administradores educacionais. Os cubanos parecem fazer isso bem. Mas essa é uma área politicamente eletrizada. Os sindicatos dos professores tem posições ferozes contra quaisquer dessas políticas. Experimentos aqui e acolá (por exemplo, no Chile) estão começando a acontecer, mas os resultados permanecem inconclusivos.
    5 - O uso de mais instrução individualizada é uma alternativa atraente. As novas modas pedagógicas vão nesta direção. Mas a sua implementação certamente requer mais tempo dos professores. Em muitos casos, isto até seria possível.
    6 - Finalmente, há a política de valorização social da educação, aumentando a consciência pública do que acontece nas escolas e envolvendo a sociedade nesse apoio. Essas são medidas que podem ser adotadas e, de resto, tem tido sucesso em outros lugares(como por exemplo, o esforço de Minas Gerais de aumentar a participação dos pais na vida da escola).

            Este trabalho não precisou mostrar que a educação. de Cuba é boa. Os dados empíricos da OREALC sobre o rendimento superior dos seus alunos mostram isso de forma mais eloqüente e confiável. Apenas tentei especular sobre os porquês da boa educação em Cuba. Nas minhas visitas, o que vi foi uma dose salutar de bom senso e soluções convencionais aplicadas por professores sérios que tem muito tempo para dedicar aos seus alunos e muitos incentivos para fazê-lo. E tudo que acontece na escola se dá durante uma jornada escolar muito longa.
            Este trabalho é o resultado de duas visitas a escola e de conversas com alguns poucos cubanos e com estrangeiros que conhecem o país. Obviamente, não fiz uma pesquisa acadêmica séria. Meus propósitos foram mais modestos e não visam mais do que convidar os leitores a pensar na educação latino-americana e especular acerca do que podemos aprender com Cuba.

    Comentário: É profundamente emocionante ver o que realmente é valorizado em terras cubanas. Pessoas, vidas, seres humanos são o motivo principal daquela sociedade que, mesmo com tanta dificuldade, consegue manter-se comunista, em um sistema onde não existem homens explorando homens, em uma busca desenfreada pela superioridade e riqueza. Pergunto aos caros leitores: O que somos nós? O que temos para oferecer a nós mesmos e ao nosso semelhante nesse sistema podre e corrupto que nos ensina diariamente a sermos egoístas e a aceitar como natural uma realidade que condena pessoas a miséria moral, física, material e intelectual? Deixo essas e outras reflexões aos leitores.

    quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

    BRASIL, PAÍS CAPITALISTA


    Analisando criticamente o  Brasil, constatamos a existência de dois extremos, os quais podemos denominar de "Índia e Bélgica" brasileiras, denunciando-o como um país de contrastes. De um lado a parte semelhante à "Bélgica", nação européia desenvolvida, onde seus cidadãos gozam de excelentes condições de moradia, saúde, educação e emprego. Que gozam de plenos direitos sociais, políticos e econômicos. De fato, alguns brasileiros têm um padrão de vida compatível com o da Bélgica. De outro lado temos a situação que se parece com a Índia, país asiático marcado pela miséria e total ausência de direitos. Muitos brasileiros sabem bem o que é sobreviver nessas condições!
    Essa má distribuição social é própria do sistema econômico que vivemos, denominado CAPITALISMO. O capitalismo coloca em situações diferentes os que detém o capital e os que trabalham para produzí-lo.

    Apesar de transparecer a nossos olhos que nos países como a Bélgica a desigualdade social tenha diminuído, na verdade o que há é a aproximação dos indivíduos das condições de vida da burguesia, que é a detentora do capital nos países capitalistas. Porém, isso não acontece com a classe trabalhadora.
    A exploração dos trabalhadores é muito maior em nosso país, onde as condições de vida e trabalho condenam grande parte dos trabalhadores a uma situação de miséria absoluta.
    A explicação que usa como exemplo da "Bélgica" e da "Índia" como convivendo no mesmo Brasil, impossibilita-nos de ver que, longe de se apresentarem como realidades diferentes, aqueles cidadãos que se encaixam na Bélgica brasileira vivem dessa forma graças à miséria causada pela exploração daqueles que são considerados como pertencentes á Índia brasileira.  As razões disso estão na forma pela qual o Capitalismo se estrutura, desde seu aparecimento: NA EXPLORAÇÃO DO TRABALHO ASSALARIADO, que progressivamente foi separando os trabalhadores, o proletariado, dos donos dos meios de produção, a burguesia.
    A diferença entre essas duas classes se mostra também nos anos de estudo e no acesso aos bens culturais. A classe burguesa, uma minoria, dispõe de maior escolaridade e acesso aos bens culturais, como literaturas de qualidade em jornais, revistas, livros, bibliotecas, teatros, cinemas, viagens, etc.
    A classe trabalhadora, de menor renda, em sua maioria dispõe de pouco ou nenhum acesso a tais bens culturais. A escola não tem conseguido modificar essa desigualdade. Anos de estudos e cursos concluídos são privilégios daqueles que têm poder, perpetuando a dupla relação: PODER É SABER E SABER É PODER.   
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